Sérgio Godinho

1 Música

Bio

  • Finalista 2019, Portugal

    Não sei se estão a ver aqueles dias
    Em que não acontece nada sem ser o que
    aconteceu e o que não aconteceu
    E do nada há uma luz que se acende
    Não se sabe se vem de fora ou se vem de
    dentro
    Apareceu

    E dentro da porção da tua vida, é a ti
    Que cabe o não trocar nenhum futuro pelo presente
    O fazer face a face que se teve até ali
    Ausente, presente

    Vê lá o que fazes, há tanto a fazer
    Fazes que fazes ou pões sementes a crescer?
    Precisas de água
    Terra também
    Ventos cruzados e o sol e a chuva que os detém
    Vivida a planta
    Refeita a casa
    É o espaço em branco
    Tempo de o escrever e abrir asa
    E a linha funda, na palma da mão
    Desenha o tempo então
    Desenha o tempo então

    Mas há linhas de água que cruzas sem sequer notares
    E oh, estás no deserto
    E talvez no oásis, se o olhares
    E não há mal, e não há bem
    Que não te venha incomodar
    Vale esse valor?
    É para vender ou comprar?

    Mas hoje questões éticas?
    Agora?
    Por favor
    Que te iam prescrever
    A tal receita para a dor
    Vais ter que reciclar
    O muito frio e o muito quente
    Ausente
    Presente

    Vê lá o que fazes, há tanto a fazer
    Fazes que fazes
    Ou pões sementes a crescer?
    E a linha funda, na palma da mão
    Desenha o tempo então
    Desenha o tempo então

    Um curto espaço de tempo
    Vais preenchê-lo
    Com o frio da morte morrida
    Ou o calor da vida vivida?
    Não queiras ser nem um exemplo
    Nem um mau exemplo
    Por si só
    Há dias em que é grão da mesma mó

    E a senha já tirada
    Já tardia do doente
    Dez lugares atrás
    E pouco a pouco à frente
    E cada um falar-te das histórias da sua vida
    Feliz, dorida

    Vê lá o que fazes
    Há tanto a fazer
    Fazes que fazes
    Ou pões sementes a crescer?
    Precisas de água
    Terra também
    Ventos cruzados
    E o sol e a chuva que os detém
    Vivida a planta
    Refeita a casa
    E espaço em branco
    Tempo de o escrever e abrir asa
    E a linha funda, na palma da mão
    Desenha o tempo então
    Desenha o tempo então

    E explicaram-te em botânica
    Uma espécie que não muda a flor do fatalismo
    Está feito
    E se até dá jeito alterar
    Só por hoje o amanhã
    Melhor é transfigurar o amanhã com todo o hoje
    E as palavras tornam-se esparsas
    Assumes
    Fazes que disfarças
    Escolhes paixões
    Ciúmes
    Tragédias e farsas
    E faças o que faças
    Por vales e cumes
    Encontras-te a sós, só
    Grão a grão
    Acompanhado e só
    Grão da mesma mó
    Grão da mesma mó
    Grão da mesma mó
    Grão da mesma mó